Ícone da Odontologia Social no Brasil, Felipe Rossi avisa: “o sofá não é o melhor lugar para mudar o mundo”
O Brasil tem o maior número de dentistas no mundo: cerca de 310 mil. É o
terceiro mercado mundial, ficando atrás apenas dos EUA e China. Mas, ao mesmo
tempo, 22 milhões de pessoas nunca tiveram acesso a um dentista. A cada quatro
idosos, três são desdentados totais.
Estes dados contraditórios estão sempre na ponta da língua do cirurgião
dentista Felipe Rossi, coordenador da Missão África e idealizador e presidente
da ONG Por1Sorriso, que atua em comunidades extremamente carentes e com pouco
acesso à assistência como populações ribeirinhas e indígenas, quilombolas,
moradores do sertão nordestino, povoados em condição de miséria no continente
africano e comunidades urbanas carentes.
Especialista em dentística restauradora e periodontia, Rossi começou sua
trajetória na Odontologia Social em 2015 quando se sentiu impelido a trabalhar
voluntariamente em um projeto social de saúde bucal. Foi para Moçambique,
integrando a Missão África. “Deus falou: vou te dar algumas histórias para você
digerir quando voltar para sua bolha em São Paulo”, conta Felipe. Já no
primeiro dia, rodeado por um grupo de 50 crianças moçambicanas em situação de
extrema pobreza, o dentista perguntou sobre os hábitos de higiene bucal e como
cada uma escovava seus dentes.
“Apenas três crianças das 50 tinham uma escova de dentes. As outras
escovavam com o dedo e terra”. Emocionado ao lembrar da história, ele conta que
distribuiu escovas para todos, mas uma das crianças vendeu o objeto e recebeu
uma bronca de Felipe. “Ele me disse que trocou por uma fruta. Sua irmã não
comia há dois dias e essa foi a história que motivou a Por1Sorriso”, diz.
De volta ao Brasil impactado com a realidade que vivenciou, Felipe Rossi
fundou a ONG que, nestes quase quatro anos de atuação, já levou sorrisos para
mais de 12 mil pessoas em mais de dez estados brasileiros, para o Quênia e
Moçambique. “Queremos chegar mais longe. Onde tiver um sorriso para despertar,
a gente quer estar lá. Nós não buscamos o sorriso da boca, queremos dar o
sorriso da alma. A gente não cuida de dente, a gente cuida de gente”, afirma.
É
preciso cultivar e incentivar a solidariedade
Para o dentista Felipe Rossi, é preciso cultivar e incentivar a cultura
da solidariedade no Brasil. Segundo dados apresentados por ele, enquanto nos
EUA cerca de um quarto da população faz trabalhos voluntários, no Brasil esse
número cai para menos de 4%. “O mundo tem jeito e a gente pode sim fazer uma
transformação social. Mesmo com a intolerância que vemos nos dias de hoje, eu
acredito”, afirma.
Rossi acredita que os profissionais devam se dedicar ao voluntariado
como maneira de devolver para a sociedade o “bem” e o dom que receberam. “É uma
questão de justiça social. Muita gente me fala que eu enxugo gelo. Mas eu não
acredito nisso. Nós podemos fazer a diferença e se você não está do lado do
oprimido, você está do lado do opressor. Temos que usar tudo o que recebemos,
no caso a odontologia, para fazer isso e o sofá não é o melhor lugar para mudar
o mundo”.
Felipe Rossi é parceiro da Rede IOA e estará presente como palestrante
no evento OdontoExperience, promovido pelo Grupo Harmonique, que acontecerá nos
dias 25 e 26 de outubro, em Balneário Camboriú. Saiba mais
em: http://odontoexperience.com/
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